METODOLOGIA PARTICIPATIVA: uma introdução a 29 instrumentos
Markus Brose, Tomo Editorial, Porto Alegre, Brasil, 2010
Analisar uma realidade requer a utilização de determinadas ferramentas. Da mesma forma, quem elabora projetos, planeja, reflete e avalia ações necessita de algum tipo de instrumental. Escolher os instrumentos para a finalização mais adequada de cada um destes desafios é um dos primeiros passos para a sua resolução. Mas como se decide?
Imagine-se o leitor diante da necessidade de transportar-se de uma cidade a outra. As alternativas possíveis e disponíveis podem ser de vários tipos: do avião à caminhada, passando pelo automóvel particular, automóvel locado, trem, helicóptero, ônibus, bicicleta, barco… A escolha dependerá da análise de uma série de variáveis: distância, existência de estradas, rios navegáveis, trilhos, quantidade de acompanhantes, tempo disponível, etc. Isso serve para dizer que nem sempre o recurso mais “poderoso” é o mais adequado para uma dada situação. Ninguém tomará um avião para percorrer uma pequena distância, havendo tempo, estradas, automóveis à disposição, assim como não se admitiria percorrer a pé uma grande distância, com uma comitiva premida pelo prazo.
Para fazer a melhor escolha, é preciso conciliar o conhecimento das condições existentes com os recursos disponíveis. Não basta, portanto, conhecer as variáveis (tempo, objetivo, distância, infra-estrutura). É preciso conhecer também os tais recursos: como é um avião, em que condições pode ser usado, o que implica seu uso em termos de equipe e de custo. O mesmo se dá com os instrumentos participativos e a ação participativa. As pessoas conhecem, em geral, as condições em que deverão atuar, mas muito frequentemente desconhecem o conjunto de instrumentos disponíveis. Quando muito, têm acesso a um ou outro especialista em determinado instrumento, o qual naturalmente defende o seu como “o” instrumento.
Para dar uma visão geral do conjunto de instrumentos e, assim, auxiliar na sua escolha consciente é que surgiu este livro. Mas ele vai além ao partir do pressuposto de que os métodos devem perder a aura mítica que muitos lhes atribuem. Aqui se defende a ideia de que os instrumentos são meros meios para que se discuta o que é central na questão da participação: as disputas pelo poder. Como diz o organizador, na introdução, “instrumentos participativos têm como função principal ajudar a estruturar as disputas sobre poder entre atores sociais, torná-las mais transparentes e desta forma contribuir para uma distribuição mais equitativa de poder”.